“DKANDLE tece paisagens sonoras transcendentes vibrantes e multicoloridas, misturando texturas Shoegaze difusas e reverberantes, meditações Dream Pop hipnotizantes, tons Grunge lamacentos e tensões Post-punk temperamentais, intensificadas com lirismo comovente e vocalizações emotivas e pensativas”
Primitivamente, sobretudo na época dos reis, Israel achava-se, com respeito a todas as coisas, numa relação justa, isto é, natural. O seu Jeová era a expressão do sentimento do poder, do gozo em si, da esperança em si; dele se esperava a vitória e a salvação, sem ele se confiava na natureza, que dá o que o povo necessita: antes de tudo a chuva. Jeová é o Deus de Israel e, portanto, o Deus da justiça. É a lógica de todo o povo que possui o poder, e que tem a consciência tranquila. Não obstante, todas as esperanças ficaram incumpridas. O Deus antigo não podia já nada do que pudera noutro tempo. Devia ter sido abandonado. Que sucedeu? Transformou-se o seu conceito, desnaturalizou-se a noção de Deus: foi por tal preço que se pôde conservar Jeová, o Deus da Justiça; não foi uno com Israel nem a expressão do sentimento de dignidade nacional; não passou de um Deus condicional...
A sua noção transforma-se em instrumento nas mãos de agitadores sacerdotais, que agora interpretam toda a felicidade como uma recompensa, toda a desgraça como um castigo pela desobediência para com Deus, como um pecado: maneira a mais enganadora de interpretar uma pretendida lei moral universal com que se inverte de uma vez para sempre o conceito natural de causa e efeito.
O que é a moral judaica, o que é a moral cristã? O acaso que perdeu a sua inocência; a infelicidade manchada pela ideia do "pecado"; o bem estar como perigo, como tentação; o mal estar fisiológico envenenado pelo verme roedor da consciência.
A vontade de Deus, isto é, a condição de conservação para o poder do sacerdote, deve ser conhecida; para alcançar esse fim, é necessário uma revelação. Dito de outra forma: torna-se necessária uma grande falsificação literária, descobrem-se as Sagradas Escrituras; tornam-se públicas com toda a pompa hierática, com jejuns e lamentações por causa do longo estado de pecado. Desde então, as coisas da vida estão ordenadas de tal modo que o sacerdote se torna indispensável em toda a parte.
A desobediência a Deus, isto é, ao sacerdote, à lei, chama-se agora pecado; os meios de reconciliar-se com Deus são, como é justo, meios que asseguram ainda mais profundamente a submissão ao sacerdote; só o sacerdote salva... Examinados psicologicamente, os pecados tornam-se indispensáveis, são propriamente os instrumentos do poder. O sacerdote vive pelos pecados, tem necessidade de que se peque... Princípio supremo: "Deus perdoa ao que faz penitência", ou, por outro modo: ao que se submete ao sacerdote.
Se existe felicidade em julgar-se uma pessoa salva do pecado, não é necessário, como condição, que o homem seja pecador, o essencial é que se sinta culpado. Mas se, de todas as maneiras, a fé é necessária antes de tudo, há de ser preciso pôr em descrédito a razão, o conhecimento, a investigação científica: o caminho da verdade converte-se em caminho proibido.
Excertos do livro Genealogia da Moral de Nietzsche
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Edição #4
Rio de Janeiro, 2001
Nietzsche
O pecado, essa forma de poluição da humanidade por excelência, foi inventado para tornar impossível a ciência, a cultura, toda a elevação e toda a nobreza do homem; o sacerdote reina pela invenção do pecado. A dúvida já é um pecado... Pôr a pessoa doente é o verdadeiro pensamento oculto de todo o sistema redentor da Igreja.
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